Apesar da clássica imagem da Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro, com águas poluídas e condições impróprias para a saúde, a região da baía é uma Área de Proteção Ambiental (APA) e ainda resguarda os últimos remanescentes de manguezais locais, também ameaçados pelos resíduos do maior complexo petroquímico do Rio de Janeiro, o Comperj, e diversos outros impactos.
A APA Guapimirim, localizada no Recôncavo da Baía, é uma espécie de paraíso ecológico, com 14 mil hectares, e abrigando ainda a Estação Ecológica Guanabara. Ali sobrevivem botos, aves, lontras, jacarés ou caranguejos, que mantêm a cadeia alimentar do ecossistema, já alvo de outros impactos graves, como o do rompimento do duto da Petrobrás, em 2000, que provou o vazamento de 1,3 milhão de litros de óleo nas águas, e cuja mancha se espalhou por 40 km2 da baía.
Porém, desde 2008, voluntários da Fundação SOS Mata Atlântica e parceiros locais vêm recontando juntos a história da conservação e recuperação ambiental da APA Guapimirim. O ideal de recuperar os ecossistemas ameaçados uniu os voluntários, que ao longo dos anos passaram a plantar mudas nativas no trajeto entre a sede da APA e seu interior, recuperando as margens do rio Guapimirim e trazendo nova cara à paisagem local.
Cada ação já chegou a contar com até 80 pessoas, entre voluntários e estudantes, que quando voltam acabam se surpreendendo com o resultado das ações anteriores visto na vegetação recuperada. “Me sinto orgulhosa em ver que as mudas que plantei no passado realmente progrediram, o que é um estímulo para voltar mais vezes”, diz a voluntária da SOS Mata Atlântica, Tatiana Nassi.
Segundo Beloyanis Monteiro, atividades como essa apontam um caminho para a educação ambiental e a proteção dos que ainda resta do bioma Mata Atlântica. “Precisamos sempre engajar mais pessoas, informar a população carioca sobre a importância dessa área, e as ações dos voluntários revelam que as pessoas podem participar ativamente dos processos que incentivam a conservação ambiental”, diz o coodernador de mobilização da SOS Mata Atlântica.
Quando a APA de Guapimirm completou 30 anos, em novembro de 2014, o grupo plantou mais 300 mudas de árvores nativas e fez seu tradicional mutirão de limpeza das margens, mas a surpresa maior veio com a devolução de 370 caranguejos-uçá à natureza, que haviam sido capturados pela Guarda Municipal Ambiental de Niterói em período de defeso, tendo sido resgatados com vida.
Finalmente, em meados de 2015, por meio do Fundo Costa Atlântica, da SOS Mata Atlântica, a APA recebeu apoio para o novo projeto “Sítio Sustentável – Permaculturando na APA Guapimirim”, executado pela Associação Cultural Bantu Brasil. “O projeto visa implementar ações de capacitação e práticas em desenho permacultural sustentável de sítios rurais, com o objetivo de capacitar e qualificar os habitantes do entorno da Área de Proteção Ambiental (APA), ampliar e escoar sua produção vegetal e animal, desde a coleta sustentável de caranguejo (prática tradicional local) até a criação de galinhas e ovos, horticultivos, produtos beneficiados, artesanato, flores e plantas ornamentais”, conta Camila Keiko Takahashi, analista de projetos do Programa Costa Atlântica.
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