O pouco que resta da Floresta Atlântica é um reservatório genético de informações biológicas, com um potencial para futuras aplicações de valor inestimável.
Em meio à região serrana dos estados mais densamente habitados do país, como São Paulo, Paraná e Santa Catarina, 15 novas espécies de sapos acabam de ser descobertas, vivendo em intrínseca adaptação aos ecossistemas do alto da Serra do Mar. Se a notícia faz pensar no quanto as florestas tropicais ainda possuem uma riqueza biológica desconhecida pelos cientistas, de outro, serve de alerta para a surpreendente biodiversidade presente em remanescentes ameaçados da Mata Atlântica, restrita a 12,5% (Atlas de Remanescentes Florestais da SOS Mata Atlântica) de sua formação original.
Conhecemos menos do seu funcionamento do que deveríamos supor, pois em quatro anos de estudo, pesquisadores notaram que essas espécies, do gênero Melanophryniscus e Brachycephalus, foram se diversificando por meio da diferenciação de linhagens, numa região de pequenas áreas de montanhas isoladas, vivendo em regiões muito limitadas, mas com potencial de novas descobertas ainda nos próximos anos.
Os Brachycephalus, que estão entre os menores vertebrados terrestres do mundo, variando entre 0,6 milímetros a 1 centímetro, foram achados nas matas no topo das montanhas da Serra do Mar, adaptados a viver escondidos sob as folhas do chão da floresta. São donos de cores chamativas, como o amarelo, o laranja e o vermelho e de um canto marcante, mas muito sensíveis às mudanças climáticas, o que já os torna potencialmente ameaçados de extinção. Os Melanophryniscus, encontrados recentemente, também vivem no alto das montanhas, adaptados a viver sobre e ao redor de bromélias que crescem no chão da mata. Possuem tamanhos diminutos, variando entre 13 e 23 mm e exibem um padrão colorido de preto, marrom, branco, vermelho e amarelo.
A estreita relação com os ameaçados ecossistemas da Mata Atlântica, do qual são endêmicos, aumenta sua fragilidade e necessidade de conservação. A boa informação é que em junho deste ano, a revista científica PeerJ (https://peerj.com/articles/1011/) publicou artigo descrevendo sete destas 15 novas espécies de sapinhos da montanha, pertencentes ao gênero Brachycephalus, o que torna o registro oficial e permite novo status para ações e políticas públicas de proteção desses animais e seus ambientes.
Todo o estudo só foi possível por meio de uma parceria entre o Mater Natura – Instituto de Estudos Ambientais, a Universidade Federal do Paraná e a Fundação Grupo Boticário, que patrocinou o projeto de pesquisa pioneiro no Paraná.
Segundo o pesquisador associado do Mater Natura e um dos responsáveis pelo projeto, Luiz Fernando Ribeiro, a descrição de sete novas espécies de anfíbios na floresta atlântica torna evidente que a conservação do bioma se faz imprescindível. “A probabilidade de encontrarmos mais espécies inéditas é muito grande, já sabemos que elas existem. O pouco que resta da floresta é um reservatório genético de informações biológicas, com um potencial para futuras aplicações de inestimável valor científico, social e até comercial. Além disso, as espécies originais da Floresta Atlântica têm um grau imenso de exclusividade, se as perdermos, estaremos abrindo mão do patrimônio genético nelas contido e das próprias espécies, que serão extintas sem a possibilidade de recuperação”, constata Luiz Fernando.
Os sapinhos da montanha são microendêmicos, ou seja, possuem um alto grau de exclusividade, e sua conservação garante não só a continuidade desses animais, mas também de muitas outras espécies conhecidas ou não.
Nesse sentido, a divulgação das descobertas vem a garantir a implementação de medidas de conservação desses animais até então desconhecidos e, por isso mesmo, não priorizados nas políticas ambientais. Melhor exemplo é que pela situação delicada em que se encontram, as sete espécies já foram incluídos no Plano de Ação Nacional para a Conservação dos Anfíbios e Répteis Ameaçados da Região Sul do Brasil – PAN Anfíbios do Sul. O documento do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) inclui ações prioritárias de conservação e recuperação da população das espécies com status de ameaçadas de extinção.
Comentário