No imaginário popular a visão do meio ambiente do Piauí como um lugar pobre em vegetação, sem paisagens naturais atraentes ou diversificadas, está cada vez mais defasada em relação às reais características do território. Além do encontro de diferentes biomas como Cerrado e Caatinga, o Estado guarda remanescentes de Mata Atlântica únicos no mundo e uma das maiores áreas naturais do interior do Nordeste, a região de Serra Vermelha. Ali, o encontro de diferentes tipos de vegetação originou espécies endêmicas, com a presença de mais de 340 espécies de vertebrados terrestres.
Poucos sabem que a Mata Atlântica ocupa 10,52% da área do Estado, numa área de 2,6 milhões de hectares, que se estende sobre o território de 43 municípios piauienses. E desconfiam menos ainda que o Estado do Piauí é o segundo maior desmatador do bioma no país, tendo perdido 6,6 mil hectares de Mata Atlântica entre 2012 e 2013, segundo o Atlas dos Remanescentes Florestais da SOS Mata Atlântica e Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), ficando atrás somente de Minas Gerais.
Coincidentemente, a produção agrícola cresceu 135% neste período no Estado, em relação a 2011, graças ao aumento de áreas naturais degradadas e não pela melhoria na produtividade do solo cultivado.
Dessa forma, ações emergenciais de proteção da floresta tropical vêm se tornando fundamentais.
Há anos, representantes do setor produtivo e de segmentos locais questionam a presença do bioma no Estado, descaracterizando a existência das florestas estacional decidual e semidecidual como ecossistemas típicos do Piauí, o que obviamente diminuiria a proteção legal sobre a floresta, com prejuízos para o aumento do desmatamento.
A Lei 11.428 de 2006, denominada Lei da Mata Atlântica, coloca a competência para elaboração do mapa com as formações florestais e ecossistemas associados da Mata Atlântica ao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
E em 2008, o Decreto 6.660 que regulamenta a Lei da Mata Atlântica aprovou o Mapa da Área de Aplicação da Lei da Mata Atlântica, elaborado pelo IBGE. Ali está a distribuição geográfica de todas as formações florestais nativas e ecossistemas associados do Bioma, onde a Mata Atlântica aparece distribuída por 17 Estados, incluindo o Piauí e toda a região da Serra Vermelha.
“Qualquer outra afirmação em contrário surge como mera conjectura, sem valor legal, pois o que vale oficialmente é a Lei da Mata Atlântica e o Mapa de Aplicação da Lei, do IBGE”, resume Paulo Pizzi, da Coordenação Nacional da Rede de ONGs da Mata Atlântica (RMA) e presidente do Mater Natura – Instituto de Estudos Ambientais.
Além disso, o Mapa de Áreas Prioritárias para a Conservação da Biodiversidade, em sua versão atualizada lançada pelo Ministério do Meio Ambiente em 2007, estabelece a região de Serra Vermelha como de “extrema importância” para esta finalidade.
No Piauí, os Parques Nacionais da Serra da Capivara e da Serra das Confusões preservam hoje a biodiversidade da Mata Atlântica, além de sítios arqueológicos milenares. Mas as Serras Vermelha e de Semitumba não são protegidas por nenhuma Unidade de Conservação, estando cada vez mais suscetíveis a pressão sobre seus remanescentes, como a de exploração madeireira para a queima em carvoarias.
Assim, no Dia Nacional da Mata Atlântica, em 27 de maio de 2015, a Rede de ONGs da Mata Atlântica lançará campanha conclamando todos os segmentos da sociedade a se mobilizar para a criação da UC na região: o Parque Nacional Serra Vermelha. Acompanhe!
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