Notícias

08
out
2014

Fragmentação de florestas diminui a fixação de carbono

Assuntos: Clima
Autor: Juliana Ferreira
Compartilhe:

O desmatamento de florestas tropicais tem causado uma perda muito maior de carbono do que se acreditava anteriormente. É o que aponta um estudo conduzido por pesquisadores da Unesp e da USP, em parceria com cientistas do Hemholtz Centre for Environmental Research (UFZ), da Alemanha, e da Universidade de Toronto (UofT), no Canadá.

O artigo foi publicado no dia 7 de outubro, no periódico científico Nature Communications, a terceira revista de maior impacto dentre aquelas voltadas às ciências multidisciplinares, ficando atrás apenas da sua irmã Nature e da Science.

Segundo o estudo, que abordou todas as florestas tropicais do planeta, mas apresentou foco especial na Mata Atlântica e na Amazônia, o efeito da degradação tem sido subestimado em áreas onde a floresta remanescente fica dispersa em fragmentos, uma vez que não era calculada a perda de biomassa nas bordas dos fragmentos.

“Quando consideramos os efeitos da fragmentação e das bordas, estimamos que as emissões de dióxido de carbono são bem maiores do que se previa anteriormente”, diz Milton Ribeiro, do Laboratório de Ecologia Espacial e Conservação da Unesp de Rio Claro. Jean Paul Metzger, da USP ressalta que os efeitos sinérgicos entre a perda e a fragmentação do habitat no acúmulo de biomassa e nas emissões de CO2 sempre foram desconsiderados nas estimativas oficiais, mas agora, “incorporando os efeitos da fragmentação estamos trazendo uma maior confiabilidade nas estimativas”, conclui.

Os cientistas da Unesp, da USP, da UofT e da UFZ fecharam uma grande lacuna do conhecimento no tocante aos efeitos da fragmentação sobre as emissões de carbono. De acordo com os cálculos, a fragmentação florestal resulta em até 20% a mais de dióxido de carbono emitido pela vegetação do que o que era considerado anteriormente.

Para estimar as emissões adicionais de carbono nas bordas florestais, os cientistas desenvolveram uma nova abordagem que integra os resultados de sensoriamento remoto, ecologia de paisagens e modelagem de dinâmica florestal. Nestas áreas de borda, condições microclimáticas se alteram, como por exemplo, uma maior incidência solar, as temperaturas aumentam e flutuam mais, com isso os ventos são mais pronunciados.

Isso resulta em um aumento do estresse das árvores, culminando em uma maior mortalidade, sendo os espécimes grandes os mais afetados. “A mortalidade das árvores em condições de borda aumenta, de maneira que estas áreas não armazenam tanto carbono quanto as regiões mais centrais”, comenta Sandro Pütz, pesquisador da UFZ que liderou o estudo. Esta perda de carbono foi então modelada considerando-se o tamanho dos remanescentes.

“Como fragmentos menores apresentam maior proporção de áreas de borda, quando comparados aos fragmentos maiores e as áreas de matas contínuas, ao usar o tamanho dos fragmentos para prever a perda de carbono estamos apresentando estimativas mais precisas”, reforça Ribeiro. “As matas tropicais, e a Mata Atlântica e a Amazônia em especial, são reconhecidas mundialmente como de elevada importância para a garantia de diversos serviços ambientais, sendo a manutenção dos estoques de carbono, através da biomassa, um dos mais relevantes”, ressalta Alexandre Camargo Martensen, da Universidade de Toronto, porém brasileiro, e também autor do estudo.

Os pesquisadores utilizaram imagens de satélite para analisar como as florestas tropicais estão espacialmente distribuídas, e os impactos dessa distribuição nos estoques de carbono. Como o foco principal foi no Brasil, no caso da Mata Atlântica, que é muito fragmentada, foram utilizadas imagens de 30 metros de resolução, o que possibilitou o mapeamento mesmo de fragmentos de tamanhos bastante reduzidos.

Já para a Amazônia foram utilizadas imagens de 250 metros de resolução espacial. “Em ciência, esse é o limite de processamento, pois o volume de dados da Amazônia é muito grande”, diz o pesquisador da UFZ Prof. Dr. Andreas Huth. “Para a Mata Atlântica foi utilizado o mapeamento da SOS Mata Atlântica, que seguramente é a melhor fonte de informações sobre os remanescentes florestais do bioma”, diz Ribeiro. “Mais de noventa por cento dos remanescentes florestais são menores que 100 hectares, e aproximadamente 45% do que sobrou da Mata Atlântica está a menos de 100 m de bordas, o que compromete grandemente a sua função como reservatório de carbono”, pontua Alexandre Martensen.

As conclusões do artigo apontam que mais de 68 milhões de toneladas de carbono deixam de serem estocadas todos os anos exatamente nessas áreas apenas na Mata Atlântica. “Esta é uma enorme perda para a Floresta Atlântica brasileira, e que está diretamente relacionada ao seu elevado estado de degradação”, conclui Pütz. Por outro lado, na Amazônia brasileira, as áreas de borda correspondem a somente 7% de toda a área florestal, acarretando uma emissão adicional de 600 milhões de toneladas em 10 anos, apenas motivada pela fragmentação florestal, não considerando as emissões pela conversão da floresta em pastagens e campos agrícolas. Além disso, o estudo aponta que a porcentagem de perda de carbono diminui conforme aumenta o tamanho do remanescente florestal, e é somente em fragmentos com área acima de 10.000 hectares que a porcentagem de perda pela fragmentação diminui para quase zero, dependendo ainda da forma, e do nível de conservação do interior desses fragmentos.

Este é o primeiro estudo a apresentar uma estimativa global para as emissões de carbono devido aos efeitos da fragmentação florestal. Um quarto das emissões mundiais são causadas pelo desmatamento ao redor do globo, contudo, este estudo mostra que essas emissões podem ser até 20% maiores do que o atualmente calculado, devido aos efeitos da fragmentação florestal. “É um processo que historicamente vem sendo negligenciado na circulação global de carbono da vegetação”, comenta Huth. “Esse aspecto não tem sido incluído nos cálculos do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), e consideramos que as emissões de carbono devido à fragmentação florestal devam ser urgentemente incluídas nas estimativas oficiais”, enfatiza Putz.

Publicação
Sandro Pütz, Jürgen Groeneveld, Klaus Henle, Christoph Knogge, Alexandre Camargo Martensen, Markus Metz, Jean Paul Metzger, Milton Cezar Ribeiro, Dantas de Paula, M. & Andreas Huth. Long-term carbon loss in fragmented Neotropical forests. Nature Communications 5, nn. (2014). doi: 10.1038/ncomms6037 – www.nature.com/naturecommunications

Assessoria de Comunicação e Imprensa da Unesp


Do NOT follow this link or you will be banned from the site!