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Espírito Santo reflete dimensão da crise hídrica do Sudeste

 

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Dois dos rios que abastecem a principal cidade turística do Espírito Santo, conhecida por suas belezas naturais e areias com propriedades terapêuticas, quase secaram em pleno verão de 2014 e 2015, comprometendo as atividades da população durante a alta temporada. Os mananciais que fornecem água a Guarapari nascem na região montanhosa, bastante próxima à faixa litorânea, mas já estão com a qualidade e quantidade de água ameaçadas pelo impacto humano.

Além da seca histórica que afetou a disponibilidade dos mananciais locais, os rios Conceição e Jabuti são alvo de um problema de natureza regional: o desmatamento das nascentes para a abertura de pastagens, a falta de mata ciliar e o impacto do esgoto das residências. Ainda assim, a Companhia de Abastecimento do Estado (CESAN) captou 100% da água dos rios no auge da seca, e ainda buscou água de seu contribuinte, o rio Benevente, do município de Anchieta, já bastante sacrificado.

Quem faz o alerta é a Associação Ecológica Força Verde, afiliada da Rede de ONGs da Mata Atlântica, que desenvolveu um diagnóstico com os usuários do Rio Conceição, para mapear os problemas e a percepção dos proprietários locais. “A principal causa é o desmatamento e prevemos que haja aumento de esgoto e até o desaparecimento do manancial caso não haja fiscalização e recuperação da vegetação. Havendo outra seca, também estão previstos conflitos entre os usuários do rio Benevente e a população de Guarapari, com mais de 110 mil habitantes”, descreve Celso Maioli Junior, presidente da Força Verde.

A situação em Guarapari no início de 2015 era de escassez, havendo racionamento para o uso de água potável por tempo indeterminado, afetando residências e prédios públicos. Como a cidade chega a receber até 700 mil turistas no verão, segundo o site da prefeitura, os problemas de abastecimento de energia e água também se tornam acentuados.

Já o Espírito Santo sofre uma das maiores secas da história, com 13 municípios tendo decretado situação de emergência em janeiro deste ano. Só em Cachoeiro do Itapemirim, mais de 600 propriedades rurais foram comprometidas pela falta d’água e o baixo nível dos rios, provocando perdas significativas para os agricultores.

A relação entre a problemática local e a situação global é reforçada, conforme a crise hídrica no Sudeste, principalmente no polígono entre Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais, tem feito a região mais populosa do país conviver com o drama da seca com características comuns a todos. Desmatamento, poluição dos rios, ocupação desordenada e falta de planejamento hídrico a longo prazo tem sido causas tão importantes quanto a falta de chuvas no Sudeste.

O que faz com que situações críticas como a do Estado de São Paulo, cuja região metropolitana de 20 milhões de pessoas vive o risco de ficar sem água nas torneiras, não se diferenciem tanto do esgotamento do Rio Conceição, em Guarapari. “Numa seca mais prolongada, poderá haver conflito entre os municípios, pois dificilmente os usuários do Rio Benevente concordarão em favorecer Guarapari, ao mesmo tempo que a qualidade da água fornecida à população é cada vez mais insegura, e governo e população demonstram pouco interesse em tratar as causas reais da degradação”, destaca Celso sobre os temas comuns a todo o Sudeste.

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