As áreas verdes que permeiam as regiões mais urbanizadas de João Pessoa (PB) são uma das marcas desta cidade do Nordeste, em que a beleza da paisagem, o equilíbrio climático e até a fauna nativa se mantêm devido à preservação da vegetação urbana. Um bom exemplo é a avenida Beira-Rio, que possui 133 ipês catalogados pela Secretaria de Meio Ambiente, e é um símbolo para a população pessoense, que utiliza o espaço para lazer e o convívio comunitário.
Com as obras para ampliação do tráfego na cidade, a Beira-Rio tornou-se alvo de intervenções para a construção de uma rotatória e do corredor de ônibus BRT (Bus Rapid Transit), interligando o centro da cidade ao Altiplano do Cabo Branco. Neste caso, a vegetação nativa do canteiro central, onde os ipês encontram-se conservados, está sob ameaça de supressão visando a implantação do corredor de ônibus.
Desde o anúncio do projeto, a Associação Paraibana dos Amigos da Natureza (APAN), organização afiliada à Rede de ONGs da Mata Atlântica (RMA), posicionou-se frente aos impactos no meio ambiente local e teve início um movimento socioambiental inédito na cidade visando a participação popular nas intervenções no espaço urbano, batizado de “João Pessoa que Queremos”.
Em estreita semelhança com o movimento “Ocupe Estelita” de Recife (PE), que também propõe a discussão sobre essas obras dentro de um projeto de cidade sustentável, o movimento paraibano realizou intervenções conhecidas como “Ocupe a Beira-Rio” visando mobilizar a comunidade para as decisões sobre o espaço público. O debate teve início nas redes sociais, expandiu-se para encontros presenciais e ganhou a adesão de formadores de opinião, estudantes e profissionais liberais, até atingir as ruas por onde a população circula e foi sensibilizada.
O grupo criou intervenções curiosas, começando com uma ‘conversa na praça’ em que se discutia com as pessoas o futuro da mobilidade na cidade, divulgação nas rádios e mobilização na imprensa, além de atos públicos na própria avenida, incluindo atrações artísticas, atividades com crianças e conversas com motoristas de carro. Inicialmente foram colocadas faixas vermelhas com desenhos de carros nas árvores que seriam derrubadas, o que gerou uma grande repercussão na mídia local.
O movimento “João Pessoa que Queremos” conseguiu então a realização de uma Audiência Pública junto ao Ministério Público Estadual, com ampla com uma ampla participação da sociedade civil e de órgãos ligados à Prefeitura Municipal. A principal reivindicação era a apresentação do projeto executivo para a avenida e mais transparência nas ações do município.
“Num segundo momento, colocamos faixas brancas nas árvores que seriam suprimidas nas proximidades da rotatória da avenida além de cartazes com a frase ‘SOS Beira-Rio’, que fizeram as pessoas se questionarem sobre essa intervenção. Aos poucos, a comunidade foi se indignando, conseguimos o apoio de técnicos de órgãos de defesa do meio ambiente e, desde 2013, a Prefeitura não tem se manifestado em relação às intervenções no canteiro central da avenida”, descreve Socorro Fernandes, membro da diretoria da APAN.
Apesar da interrupção no projeto do corredor de ônibus, o movimento “João Pessoa que Queremos” se mantém ativo e tem discutido e apresentado propostas como a de uma ciclovia na avenida. “A prefeitura já divulgou dados mostrando que só 20% da população usa automóvel em João Pessoa e que boa parte usa a bicicleta para se locomover. Então essa seria uma solução mais adequada à paisagem, sem implicar no corte dos ipês que são símbolo da cidade”, diz Socorro.
Segundo os representantes do “João Pessoa que Queremos”, em sua página no facebook, “a cidade deve continuar sendo respeitada pelo que tem de melhor: sua tranquilidade, seu verde e sua gente. E o desenvolvimento urbano precisa passar pelo amadurecimento da relação entre a gestão pública e a sociedade civil, comprometida com um projeto para além de um mandato ou de ações pontuais”.
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